Publicado no capítulo 1 de: APDESP- Atualização em Prótese Dentária, VI Congresso Paulista de Técnicos em Prótese Dentário; Ed. Santos, 1999, p.3-7
Medidas Práticas para o dia-a-dia
Resumo
Os autores visam alertar aos técnicos em prótese dentária sobre os riscos de transmissão das doenças infecto-contagiosas do consultório odontológico para o laboratório, como proceder diante de trabalhos recebidos dos cirurgiões-dentistas (CD) visando o controle da infecção cruzada. Estes profissionais que atuam diretamente com os CD, podem entrar em contato com fluidos corpóreos dos pacientes, como saliva e sangue, porconseqüência, haverá a possibilidade de contaminação com microrganismos provenientes destes fluidos, tornando estes profissionais igualmente vulneráveis ao contágio por vírus, bactérias e fungos, oriundos de pacientes atendidos pelo CD. Portanto, é lícito afirmarmos que os técnicos em prótese dentária também estejam atentos a essas doenças e a sua biossegurança, uma vez que, no Brasil, não temos dados estatísticos suficientes.
Introdução
A Administração de Saúde e Segurança Ocupacional dos EUA deixa claro sobre o uso de protetores oculares em funcionários que se submetem a trabalhos em que há a presença de partículas dispersas no ar (metais, líquidos químicos, ácidos), logo, o técnico é considerado um profissional que está constantemente exposto a estes agressores.
Runnells afirmou que os microrganismos podem passar dos moldes para os modelos de gesso, o que torna potencialmente perigosa a disseminação de infecção para o laboratório; afirma, ainda, que os profissionais devem ter o conhecimento da possibilidade real de risco e começar a praticar certas precauções para diminuir tais riscos, como: usar luvas de látex ao abrir caixas que contenham molde, modelo ou qualquer outro trabalho oriundo do consultório odontológico, máscaras protetoras especiais, gorros e protetores oculares; manter sempre o local de trabalho desinfectado. É importante, também, alertar que o número de mulheres técnicas em prótese dentária está aumentando, conseqüentemente, o uso de gorros protetores é indispensável para evitar que a possível contaminação não seja levada aos seus lares.
As superfícies de trabalho (bancada e equipo) devem ser constantemente desinfectadas por meio de substâncias químicas derivadas dos complexos fenólicos (Germpol®); caso a superfície apresente sangue, o ideal é utilizar os compostos clorados (Virex®), de acordo com o estudo de Cottone & Molinare. As substâncias derivadas dos álcoois não são indicadas para a desinfecção de superfícies por apresentarem extrema volatilidade.
Em 1993, Brace & Plummer, estudando a contaminação de próteses totais e próteses, removíveis, após terem sido provadas na boca, concluíram que a quantidade de microrganismos é elevada e que todos os trabalhos após provados na boca devem ser descontaminados, de acordo com o tipo de material da prótese e segundo orientações dos fabricantes para não causarmos nenhum dano irreversível ao mesmo. A grande maioria dos laboratórios não faz o controle de infecção em seus trabalhos.
Merchant considera de grande importância a divulgação deste método para a proteção dos profissionais e do seu local de trabalho, aconselha que todos os trabalhos recém-enviados ao laboratório passem por um único local (centro de recepção) e, então, um profissional treinado e paramentado para a descontaminação destes iniciará o processo, de acordo com o tipo de material presente.
Sobre o controle de infecção cruzada em laboratórios de prótese, Jagger aconselham o uso de luvas, gorros, máscaras e jalecos para todo o tipo de procedimento dentro do laboratório e alertam, ainda, uma maior atenção para aqueles trabalhos que já foram provados na boca, devido à permanência de um número elevado de microrganismos.
Palenik considera o risco de secar um molde recém-chegado ao laboratório para vazar, sem proteção, pois microrganismos presentes podem contaminar o profissional, durante a manipulação do molde, logo há indicação não só de protetores oculares, mas também de luvas e máscaras.
Montenegro & Manetta, durante um estudo entre trabalhos enviados ao laboratório e CD, mostraram que 67% dos materiais enviados pêlos consultórios odontológicos estavam contaminados por microrganismos de vários graus de patogenicidade (Micobacterium tuberculosis, vírus da Hepatite B e vírus do her-pés simples), diante de tal resultado, aconselham à desinfecção destes trabalhos, de acordo com o tipo de material utilizado e segundo a orientação do fabricante para não causarmos alterações dimensionais em moldes efetuados pelo CD.
Verran & Winder aconselharam a troca constante de pedra-pomes, pois durante a manipulação deste material poderá ocorrer a emissão de microrganismos no ar do laboratório; idealmente, após cada uso, este material deve ser descartado.
Nascimento confirmaram em seu estudo a presença de diversos microrganismos nos moldes e que estes podem ser transmitidos aos modelos de gesso, pois estes apresentam uma grande capacidade de sobreviver por um período considerável, mesmo quando fora dos fluidos corporais.
Com relação ao local de trabalho, algumas doenças respiratórias e dermatológicas podem comprometer o profissional. Kotloff&Righman consideram o técnico em prótese dentária um profissional que está constantemente exposto a substâncias potencialmente perigosas (berílio, sílica, dentre diversas outras) capazes de induzir doenças pulmonares. Rustemeyer&Frosch afirmaram que 63% dos profissionais analisados apresentaram dermatite alérgica de contato, 23,6% dermatite de contato irritante, ambas ligadas ao metacrilato de metila. Outros agentes irritantes foram ambiente úmido, contato com o gesso, fricção mecânica e mudanças térmicas. Com relação à prevenção, a maioria dos técnicos não sabe do poder de sensibilização destes materiais. Estes autores afirmaram, ainda, que a simples utilização de luvas especiais, com proteção especial na ponta dos dedos, colocação de ventiladores no ambiente de trabalho diminuíram consideravelmente estes problemas.
Em 1998, Setcos & Mahyuddin mediram os níveis de ruído de diversos equipamentos presentes em laboratórios de prótese e observaram que a maioria está abaixo dos 85dB, com exceção aos aparelhos de corte, limpeza a vapor, jatos de areia e jatos de ar comprimido, que podem chegar até 96dB. Os autores afirmam que estes ruídos não causam danos, mas propõem o uso de protetores auriculares (semelhantes aos da aviação e corridas automobilísticas), devido à exposição diária e constante no ambiente de trabalho.
Conclusões
Diante do apresentado anteriormente, podemos concluir que é de extrema importância a desinfecção de moldes, modelos e trabalhos provados na boca para o controle da infecção cruzada e mais proteção ao profissional, em seu ambiente de trabalho. Com a utilização destas medidas de controle, seguindo as orientações dos fabricantes, não causaremos alterações nos trabalhos. Estas medidas preventivas não causam elevações no custo do trabalho, sendo uma realidade para todos os profissionais.
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Data de Publicação do Artigo:
11 de Maio de 2006