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sábado, 20 de março de 2010

Controle de Infecção no Laboratório de Prótese

Publicado no capítulo 1 de: APDESP- Atualização em Prótese Dentária, VI Congresso Paulista de Técnicos em Prótese Dentário; Ed. Santos, 1999, p.3-7

Medidas Práticas para o dia-a-dia

Resumo

Os autores visam alertar aos técnicos em prótese dentária sobre os riscos de transmis­são das doenças infecto-contagiosas do con­sultório odontológico para o laboratório, como proceder diante de trabalhos recebidos dos cirurgiões-dentistas (CD) visando o controle da infecção cruzada. Estes profissionais que atu­am diretamente com os CD, podem entrar em contato com fluidos corpóreos dos pacientes, como saliva e sangue, porconseqüência, have­rá a possibilidade de contaminação com mi­crorganismos provenientes destes fluidos, tor­nando estes profissionais igualmente vulnerá­veis ao contágio por vírus, bactérias e fungos, oriundos de pacientes atendidos pelo CD. Por­tanto, é lícito afirmarmos que os técnicos em prótese dentária também estejam atentos a essas doenças e a sua biossegurança, uma vez que, no Brasil, não temos dados estatísti­cos suficientes.

Introdução

A Administração de Saúde e Segurança Ocupacional dos EUA deixa claro sobre o uso de protetores oculares em funcionários que se submetem a trabalhos em que há a presença de partículas dispersas no ar (metais, líquidos químicos, ácidos), logo, o técnico é considera­do um profissional que está constantemente exposto a estes agressores.

Runnells afirmou que os microrganismos podem passar dos moldes para os modelos de gesso, o que torna potencialmente perigosa a disseminação de infecção para o laboratório; afirma, ainda, que os profissionais devem ter o conhecimento da possibilidade real de risco e começar a praticar certas precauções para diminuir tais riscos, como: usar luvas de látex ao abrir caixas que contenham molde, modelo ou qualquer outro trabalho oriundo do consul­tório odontológico, máscaras protetoras espe­ciais, gorros e protetores oculares; manter sempre o local de trabalho desinfectado. É impor­tante, também, alertar que o número de mu­lheres técnicas em prótese dentária está au­mentando, conseqüentemente, o uso de gorros protetores é indispensável para evitar que a possível contaminação não seja levada aos seus lares.

As superfícies de trabalho (bancada e equi­po) devem ser constantemente desinfectadas por meio de substâncias químicas derivadas dos complexos fenólicos (Germpol®); caso a superfície apresente sangue, o ideal é utilizar os compostos clorados (Virex®), de acordo com o estudo de Cottone & Molinare. As substânci­as derivadas dos álcoois não são indicadas para a desinfecção de superfícies por apresen­tarem extrema volatilidade.

Em 1993, Brace & Plummer, estudando a contaminação de próteses totais e próteses, removíveis, após terem sido provadas na boca, concluíram que a quantidade de microrganismos é elevada e que todos os trabalhos após provados na boca devem ser descontaminados, de acordo com o tipo de material da prótese e segundo orientações dos fabricantes para não causarmos nenhum dano irreversível ao mes­mo. A grande maioria dos laboratórios não faz o controle de infecção em seus trabalhos.

Merchant considera de grande importân­cia a divulgação deste método para a proteção dos profissionais e do seu local de trabalho, aconselha que todos os trabalhos recém-enviados ao laboratório passem por um único local (centro de recepção) e, então, um profis­sional treinado e paramentado para a descontaminação destes iniciará o processo, de acor­do com o tipo de material presente.

Sobre o controle de infecção cruzada em laboratórios de prótese, Jagger aconse­lham o uso de luvas, gorros, máscaras e jalecos para todo o tipo de procedimento dentro do laboratório e alertam, ainda, uma maior aten­ção para aqueles trabalhos que já foram prova­dos na boca, devido à permanência de um número elevado de microrganismos.

Palenik considera o risco de secar um molde recém-chegado ao laboratório para va­zar, sem proteção, pois microrganismos pre­sentes podem contaminar o profissional, du­rante a manipulação do molde, logo há indica­ção não só de protetores oculares, mas tam­bém de luvas e máscaras.

Montenegro & Manetta, durante um estu­do entre trabalhos enviados ao laboratório e CD, mostraram que 67% dos materiais envia­dos pêlos consultórios odontológicos estavam contaminados por microrganismos de vários graus de patogenicidade (Micobacterium tuberculosis, vírus da Hepatite B e vírus do her-pés simples), diante de tal resultado, aconselham à desinfecção destes trabalhos, de acor­do com o tipo de material utilizado e segundo a orientação do fabricante para não causarmos alterações dimensionais em moldes efetuados pelo CD.

Verran & Winder aconselharam a troca constante de pedra-pomes, pois durante a manipulação deste material poderá ocorrer a emis­são de microrganismos no ar do laboratório; idealmente, após cada uso, este material deve ser descartado.

Nascimento confirmaram em seu estudo a presença de diversos microrganismos nos moldes e que estes podem ser transmitidos aos modelos de gesso, pois estes apresentam uma grande capacidade de sobreviver por um período considerável, mesmo quando fora dos fluidos corporais.
Com relação ao local de trabalho, algumas doenças respiratórias e dermatológicas podem comprometer o profissional. Kotloff&Righman consideram o técnico em prótese dentária um profissional que está constantemente exposto a substâncias potencialmente perigosas (berílio, sílica, dentre diversas outras) capazes de induzir doenças pulmonares. Rustemeyer&Frosch afirmaram que 63% dos profissionais analisa­dos apresentaram dermatite alérgica de contato, 23,6% dermatite de contato irritante, ambas ligadas ao metacrilato de metila. Outros agen­tes irritantes foram ambiente úmido, contato com o gesso, fricção mecânica e mudanças térmicas. Com relação à prevenção, a maioria dos técnicos não sabe do poder de sensibilização destes materiais. Estes autores afirma­ram, ainda, que a simples utilização de luvas especiais, com proteção especial na ponta dos dedos, colocação de ventiladores no ambiente de trabalho diminuíram consideravelmente es­tes problemas.

Em 1998, Setcos & Mahyuddin mediram os níveis de ruído de diversos equipamentos presentes em laboratórios de prótese e obser­varam que a maioria está abaixo dos 85dB, com exceção aos aparelhos de corte, limpeza a vapor, jatos de areia e jatos de ar comprimido, que podem chegar até 96dB. Os autores afir­mam que estes ruídos não causam danos, mas propõem o uso de protetores auriculares (se­melhantes aos da aviação e corridas automobilísticas), devido à exposição diária e constante no ambiente de trabalho.

Conclusões

Diante do apresentado anteriormente, po­demos concluir que é de extrema importância a desinfecção de moldes, modelos e trabalhos provados na boca para o controle da infecção cruzada e mais proteção ao profissional, em seu ambiente de trabalho. Com a utilização destas medidas de contro­le, seguindo as orientações dos fabricantes, não causaremos alterações nos trabalhos. Es­tas medidas preventivas não causam eleva­ções no custo do trabalho, sendo uma realida­de para todos os profissionais.

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Data de Publicação do Artigo:

11 de Maio de 2006